Talvez, em pleno 2017, pelo alto preço, a distribuição à plateia não seria de bacalhau. Mas com sua reverência e criatividade, Chacrinha encontraria um produto à altura para manter uma das mais icônicas cenas da televisão brasileira.
Como jamais saberemos e recordar é viver, ensina a marchinha, vale conferir hoje, às 20h30, no canal a cabo Viva (na Globo/TV Tribuna, dia 6) que, no centenário de nascimento de José Abelardo Barbosa de Medeiros (em Surubim/PE, em 30 de setembro), o Velho Guerreiro continua balançando a pança. Graças à fiel interpretação do ator Stephan Nercessian.
Com direção artística de Rafael Dragaud, a partir da proposta de recriar o Cassino do Chacrinha (de 1982 a 1988), o especial atualiza o formato de programa de auditório que se tornou referência às gerações seguintes, com cenário inspirado no original. Tem até o Troféu Abacaxi e as chacretes.
Vão desfilar pelo palco Sidney Magal, Fábio Júnior, Ney Matogrosso, Alcione, Blitz, Luiz Caldas, Roberto Carlos e astros que não frequentaram o programa: Anitta, Ivete Sangalo e Marília Mendonça.
Fábio Júnior chora ao rever o VT de sua primeira participação, e Roberto Carlos relembra o microfone do apresentador batendo em seu queixo quando Chacrinha o abraçava. Nercessian resgata antigos bordões do apresentador e improvisa outros, arrancando risos do júri formado por Regina Casé, Luciano Huck, Angélica, Tiago Leifert, Ana Maria Braga, André Marques, Gloria Maria e Fernanda Lima.
O ator já interpretava o Velho Guerreiro desde 2014, no espetáculo teatral Chacrinha, O Musical. “Foi quase inevitável. Ele se apropriou do personagem nos palcos e trouxe várias coisas do musical ao programa. Tentamos reproduzir ao máximo, na medida do possível, aquele caos que só o Chacrinha conseguia fazer, dentro de um programa roteirizado. Muito do improviso veio do Stephan, ele aproveitou o ritmo do personagem, e o restante do elenco entrou na brincadeira”, enaltece Dragaud.
“Acho que fiquei mais nervoso para fazer o especial do que ao estrear no teatro. No cenário da TV é possível ver como o Chacrinha era genial, interpretava para todas as câmeras, era o dono absoluto daquele espaço. Vou começar a rodar em outubro o longa Chacrinha, O Filme, no Rio. Fiz ele no teatro e na TV, vou fazer no cinema, Só falta no rádio”, conta o diretor.
Para o ator, a marca deixada pelo Velho Guerreiro é impossível de ser copiada ou reproduzida, pela autenticidade que ele levava à TV. “Ele ia contra as normas da TV, tinha tudo para dar errado, mas ele imprimia. Quando comecei a interpretá-lo, sabia que era só não atrapalhá-lo, e o resto ia acontecer”.
O que veremos
O especial televisivo relembra os concursos envolvendo o público. Na versão atualizada, cinco calouros disputam a melhor imitação de Chacrinha: Marcelo Adnet, Tom Cavalcante, Welder Rodrigues, Otaviano Costa e Marcius Melhem. O júri entra na brincadeira: Angélica chama o apresentador de Painho, como fazia Elke Maravilha, e Leifert dá notas baixas e briga com a plateia, marcas registradas de Pedro de Lara e Edson Santana.“Quando fechamos o conceito, pensamos em uma homenagem ao pai de todos os comunicadores. A sensação é de que o programa poderia estar no ar hoje. A TV é filha do que o Chacrinha construiu como instituição e pela expectativa do público”, destaca Dragaud.
O especial foi adaptado a 2017. Não há o concurso de homem mais feio do Brasil ou supercloses no rebolado das chacretes. Para Dragaud, é a velha história do politicamente correto: se você faz uma brincadeira, mas alguém se sente agredido, não é engraçado. “A gente que faz TV em diferentes programas, sempre tenta buscar esse diálogo. É um sentimento que está no ar e que responde a demandas antigas, é preciso lidar com isso, não dá para simplesmente negar”.
Para Rita Cadillac, era o pai-patrão
“Na época não pagava tão bem como hoje, mas com os tempos eram outros, dava para viver. E a gente também recebia pelos shows que ele fazia pelo Brasil. Aparecer na TV era importante e abria portas”, recorda-se Rita Cadillac, aos 63 anos, que por nove fez parte do time de chacretes.Currículo que ainda rende dividendos. Ela percorre o Brasil com um show próprio, no qual canta (músicas suas e de Rita Lee), dança e conversa com o público. “Só não conto piada”. Pedidos de autógrafos e selfies são corriqueiros.
Rita morava no exterior, onde fazia shows com Rogéria. De férias no Brasil, foi convidada para dançar na inauguração de uma boate no Rio de Janeiro, acompanhando Paulo Silvino, recém-falecido. O desempenho foi o passaporte para a TV. “O contrato com o programa do Chacrinha era por três meses. Gostei, fui ficando. Foram nove anos. Ele era um pai-patrão, cobrava, mas se preocupava com a gente e ajudava quando necessário. Não há nada sério para reclamar do nosso convívio”.
Fonte: A Tribuna
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